Por que visitar Amiens, a Veneza do Norte de França

Alguma vez vos aconteceu descobrirem um monumento, um restaurante ou até uma cidade, um local que parece até aqui ter ser ignorado pela maior parte dos turistas, um daqueles segredos bem guardados? Já vos aconteceu apaixonarem-se por um destino subvalorizado e só vos apetecer não falar dele a ninguém na esperança de que se mantenha assim? Confesso que isso me aconteceu com Amiens!


Com os seus cerca de 150.000 habitantes, Amiens é a 28ª maior cidade de França, mas se perguntarem a alguém (franceses incluídos) o que sabe sobre Amiens, as respostas pouco irão variar entre aqueles que vos dizem que é apenas um ponto no mapa entre Paris e o Canal da Mancha ou os que, um pouco mais informados, vos irão apontar a existência de uma catedral gótica na cidade.
Dito isto, admito que a minha decisão de visitar Amiens foi puramente aleatória. Isto, obviamente, até começar a pesquisar um pouco mais sobre esta cidade, capital da antiga região da Picardia, e descobrir que na realidade esconde muito mais do que se possa imaginar!
Depois de ter visitado esta cidade e me ter apaixonado por ela, hesitei em guardar este destino ainda desconhecido só para mim, mas o coração acabou por falar mais alto e decidi tomar como missão pessoal convencer tantas pessoas quanto possível a visitar Amiens!
Sim, Amiens não é uma cidade muito grande, mas compensa pelo seu charme e beleza... Apesar de a Catedral Notre-Dame ser o marco histórico mais conhecido, esta cidade apelidada de Petite Venice ou Pequena Veneza encanta quem a visita com as suas casas coloridas, os seus canais que ocupam um quarto da cidade e as ruas históricas que ajudam a defini-la!

o que fazer em amiens...

cathédrale notre-dame

place notre-dameacesso à catedral gratuito(torres: 6€; audio-guia: 4€)

O monumento mais conhecido de Amiens, e muito provavelmente o primeiro que irão ver na vossa visita pela cidade, é a Catedral Notre-Dame. Património Mundial da UNESCO, este edifício do século XIII destaca-se por ser a maior catedral gótica do mundo!
A Europa é lar de alguns dos mais antigos e detalhados exemplos de arquitectura gótica do mundo e, fascinada como sou pela arte medieval, confesso que acabei por visitar este marco histórico de Amiens várias vezes!


Depois de uma primeira visita que me permitiu descobrir a Catedral Notre-Dame, decidi alugar um audio-guia no vizinho Posto de Turismo para ficar a conhecer ainda melhor esta jóia do gótico francês! E que descoberta! Entre tantos outros factos fascinantes que me fazem recomendar vivamente este audio-guia (infelizmente não disponível em português, mas existe em inglês), aprendi que esta Catedral é duas vezes maior que Notre-Dame de Paris, com 145 metros de comprimento, 42 metros de altura e um volume total de cerca de 200.000 metros cúbicos!



Como se a estrutura da Catedral não fosse suficientemente impressionante e transmitisse bem o desejo medieval de alcançar o céu, a fachada ocidental conta com três portas, entre as quais existe um total de 52 grandes estátuas e incontáveis estátuas de menor dimensão! Na Idade Média, quando a maior parte da população não sabia ler, as fachadas das catedrais eram utilizadas como uma forma de contar a história bíblica através da iconografia!

Uma das curiosidades que me fascinou foi que, durante o processo de limpeza a laser na década de 1990, se descobriu que a fachada da Catedral era originalmente pintada!
Todas as noites de Verão podem assistir ao espectáculo Amiens, la Cathédrale en couleurs, o qual, graças a técnicas de iluminação que permitem projectar cores directamente na fachada, recria a aparência original do século XIII. 
Pessoalmente, e tendo assistido a vários espectáculos de video mapping do género, apenas o recomendo a quem ainda não conheça a história da Catedral: sim, são projectadas diferentes imagens na fachada da Catedral, mas na minha opinião esta projecção dura demasiado tempo, além de que é acompanhada de uma gravação num tom um pouco monocórdico que relata a história da catedral. O espectáculo não me fascinou particularmente mas, como referi, tal deveu-se provavelmente ao facto de ter outros com que comparar e por nessa altura já ter ficado a conhecer mais a fundo a história de Notre-Dame de Amiens.



Ao passar ao interior da Catedral, penso que o único pensamento que me ocorreu é que é impossível não ficar fascinado com a decoração! Colunas altas, tectos abobadados, cenas em relevo nas paredes, esculturas, vitrais... sentimo-nos quase assoberbados com tanta beleza e detalhe!



Embora tenha perdido a maior parte dos seus vitrais originais, a Catedral de Amiens viu-os substituídos ao longo dos séculos por vitrais mais claros, dos quais transparece cor e luz natural que tornam este local de adoração ainda mais bonito!
No interior da Catedral existem ainda centenas de estátuas, já para não falar em vários túmulos com restos mortais de Santos e Bispos. Uma das relíquias da Catedral é a suposta cabeça de João Batista, trazida de Constantinopla após a Quarta Cruzada. As relíquias da Catedral têm um valor sobretudo religioso, mas também histórico, ajudando a animar a fé da população de Amiens na Catedral, especialmente depois de esta sobreviver à Revolução Francesa e a duas guerras mundiais.


Local de forte peregrinação, no centro da Catedral irão encontrar um labirinto pintado no chão. Uma vez que nos tempos medievais a maior parte da população não tinha capacidade de empreender uma viagem física a Jerusalém, muitas vezes eram criadas representações simbólicas desta viagem, como o labirinto que aqui se encontra, no qual os peregrinos andam sobre as linhas escuras até chegarem ao centro, acreditando-se que no final do labirinto os fiéis saem espiritualmente limpos e curados.

Outra das actividades que aproveitei para fazer na visita à Catedral foi a subida às suas torres, as quais medem uns impressionantes 112 metros! A visita não é guiada, mas permite não só admirar de perto algumas das magníficas esculturas da Catedral e a sua rosácea, como também apreciar a fantástica vista panorâmica sobre a cidade de Amiens!


Ao sairem da Catedral, não deixem de admirar o jardim que se encontra nas suas traseiras: o Parc de l'Évêché ou Parque do Episcopado, criado em 1991 e o qual se estende até a um dos bairros mais bonitos da cidade...

quartier saint-leu

Se tivesse que nomear uma das razões pelas quais me apaixonei por Amiens, sei que teria que apontar aquele que é o bairro mais pitoresco de Amiens: o Quartier Saint-Leu.
O bairro Saint-Leu constitui a parte mais antiga da cidade e anteriormente era mesmo considerado como um bairro pobre de artesãos, mas uma campanha de reabilitação nos anos 90 transformou-o numa das áreas mais charmosas da cidade!
Se na Idade Média eram os moinhos de água que faziam bater o coração da cidade, actualmente irão encontrar neste bairro ruas históricas de casas coloridas, uma infinidade restaurantes e cafés com terraços ribeirinhos, galerias de arte, antiquários e - a cereja no topo do bolo - muitas, muitas flores!






Este bairro é sem dúvida o lugar perfeito para um passeio quer de dia, altura em que se consegue absorver todo o seu charme e relaxar, quer de noite quando toda a população parece fazer desta zona ribeirinha o seu ponto de encontro!





Ainda que não possa dizer se a denominação de Amiens enquanto Veneza do Norte é justificada por nunca ter visitado esta cidade italiana, confesso que encontrei em Amiens - e sobretudo neste bairro - uma enorme semelhança com Amsterdão! Como sabem, apaixonei-me por Amsterdão e não consegui deixar de apreciar em Amiens a semelhante arquitectura incomum de casas de tijolo e os canais decorados com flores que me levaram a estabelecer comparações com a capital holandesa...

A ler também: Roteiro de Amsterdão: o que visitar em dois dias na capital holandesa

Porque por vezes as palavras nos faltam para descrever lugares onde deixámos o nosso coração e porque uma imagem vale mais do que mil palavras, deixo as minhas fotografias tentarem convencer-vos a visitar este bairro pitoresco!

hortillonnages

boulevard debeauville, 54visitas de barco: 6€

Confesso que uma das razões pelas quais estava tão entusiasmada por visitar Amiens eram as suas Hortillonnages ou jardins flutuantes! Sim, leram bem, jardins flutuantes: Amiens tem cerca de 300 hectares de pequenos jardins situados em terrenos de pântano no interior dos canais! Desde a Idade Média, estes jardins forneciam a cidade com legumes, os quais eram depois vendidos num mercado flutuante (o que ainda acontece todos os Sábados), actualmente são pequenas parcelas privadas e igualmente uma atracção turística.
A área das Hortillonnages encontra-se interceptada por uma ponte, à esquerda da qual irão encontrar o Parc Saint-Pierre, o qual merece igualmente uma visita, não só pelos grandes espaços verdes como também pelas actividades e áreas de descanso.
Do lado direito da ponte, irão começar a ver os primeiros jardins das Hortillonnages. É possível caminhar à beira do rio ou alugar um barco, mas pessoalmente recomendo que optem pelo lado mais relaxante e menos aventureiro e escolham uma visita de barco com um guia barqueiro.


Os passeios são organizados pela Associação para a Protecção das Hortillonnages. Valem muito, muito a pena, mas confesso que a mecânica para conseguir bilhetes pode à primeira vista parecer algo complicada.
É necessário ter em conta que durante a manhã os passeios de barco se encontram reservados exclusivamente para grupos, pelo que as visitas para particulares só se fazem à tarde e, como tal, são muito concorridas. À tarde, a associação abre às 13h30 pelo que aconselho que estejam lá um pouco antes para conseguir o vosso bilhete! Ao chegarem e adquirirem o vosso bilhete, vai ser-vos dado um número na recepção, o qual é depois chamado num altifalante. Um passeio de barco dura mais ou menos 45 minutos e cada barco leva cerca de 12 pessoas e, uma vez todos os barcos cheios, terão que esperar até que estes regressem para embarcarem no passeio pelas Hortillonnages!
Organizando bem a vossa visita e chegando à hora de abertura, conseguirão adquirir facilmente o vosso bilhete: pessoalmente entre comprar o bilhete e embarcar no barco demorei cerca de 5 minutos (mas à saída confesso ter visto filas assustadoras!!).


Como expliquei, os passeios são guiados e ao longo do percurso o bateleiro vai explicando hábil e apaixonadamente a história das Hortillonnages. A visita é feita em francês, mas mesmo que não compreendam os comentários, na minha opinião não deixa de valer a pena nem que seja pela paisagem completamente relaxante à vossa volta, nem dá para acreditar que estamos no centro de uma cidade!



A associação esforça-se activamente por certificar que a área das Hortillonnages é protegida e conservada com regulamentos e regras rígidas como a não utilização de pesticidas. Muitos dos pequenos rios e canais são de propriedade privada e não é possível navegar no interior dos mesmos, mas os canais por onde se passa na visita deixam um vislumbre destas parcelas de terreno privadas! A maioria dos proprietários decora o lugar, não só com a construção de casas (o que é por si só fascinante já que a única forma de acesso é de barco), mas também com estátuas, decorações várias e, claro, muitas flores! A cidade de Amiens faz todos os anos uma competição para eleger a parcela de terreno mais bonita e é visível que os donos se esforçam por se superar uns aos outros, procurando ter a decoração mais florida e exótica!

visita guiada da cidade

place notre-dame, 23ADULTOS: 6€

Confesso que, de tão apaixonada que estava por Amiens, queria apreciar mais e melhor a história desta cidade que tanto me estava a surpreender e que, com toda a honestidade, confessava até aqui desconhecer... 

Ao passar pelo Posto de Turismo de Amiens, descobri a existência da visita guiada Le vieil Amiens, pelo que decidi comprar um bilhete para a mesma, por forma a descobrir mais sobre as origens da cidade. 
Apesar de ter visitado no Verão, acabei por ser a única pessoa para esta visita guiada (talvez por ser um dia da semana) e, como tal, acabei por durante 1h30 ter uma guia que me brindou com explicações sobre Amiens e respondeu a todas as minhas perguntas!

O relógio dewailly, construído em 1892. o original foi saqueado e a cidade decidiu construir uma réplica em 1999

A guia que me acompanhou era uma senhora de idade adorável que vivia em Amiens há décadas e que transmitia com paixão todo o conhecimento que foi adquirindo ao longo dos anos! Infelizmente acabei por com o tempo me esquecer do nome da senhora, mas confesso que até hoje recordo as suas informações detalhadas e apaixonantes de Amiens!
A visita guiada foi um óptimo ponto de partida para me impulsionar a partir à descoberta das ruas da cidade e dos pequenos segredos que esconde!

Os macarons d'amiens, um biscoito feito à base de âmendoas esmagadas, açúcar, mel, compota de maçã e claras

a torre perret (em homenagem a auguste perret, arquitecto que reconstruiu a cidade de le havre). este arranha-céus de 104 metros foi projectado em 1949, encontrando-se fechado ao público

A ler também: le havre não é paris ou como me apaixonei por esta cidade costeira no norte da frança

o circo júlio verne, construído em 1889, originalmente com capacidade para 3700 pessoas

Depois de ter explorado o centro da cidade, parti à descoberta daquela que se viria a revelar uma das maiores surpresas de Amiens...

maison jules verne

rue charles dubois, 2adultos: 7.5€ (gratuito para menores de 26 anos da ue)

Júlio Verne é um escritor muito conhecido (ou melhor, é só o segundo autor mais traduzido no mundo depois de Agatha Christie) e é frequentemente descrito como o pai da ficção científica por obras como "Viagem ao Centro da Terra", "Vinte mil léguas submarinas" ou "Volta ao Mundo em Oitenta Dias".

Apesar do seu sucesso, poucos são os que sabem que Júlio Verne era francês! Embora tenha nascido em Nantes, Verne viveu grande parte da sua vida em Amiens e, sendo a personalidade mais famosa que já viveu na cidade, não é de espantar que o seu nome se encontre espalhado um pouco por todo o lado desde ruas e prédios a jardins, universidades ou museus. 

A casa onde o escritor viveu em Amiens, a Maison Jules Verne, foi transformada num museu, conservando a forma como Júlio Verne a tinha decorado. 

Aconselho vivamente que aluguem um audio-guia (em francês ou inglês) para descobrir mais sobre este lugar fascinante, mas saibam que na recepção vos é entregue um livro com bastantes explicações, no qual podem ler mais sobre a casa onde o autor morou.

No primeiro piso da chamada Casa da Torre encontramos maioritariamente as divisões onde a família vivia e passava o seu tempo, como a sala de estar e o fumoir (a sala de fumar). Passadas estas divisões de recepção, subimos ao segundo piso e mergulhamos na vida íntima do escritor para admirar salas como o seu gabinete de trabalho, a sala de leitura (com um enorme mapa do mundo espalhado no chão) ou o sótão, onde encontramos de tudo um pouco desde modelos de máquinas, cofres, objectos incomuns e planos de ideias futurísticas do autor.

Não querendo fornecer demasiadas informações sobre esta casa-museu com receio de vos estragar a surpresa de uma futura visita, tenho apenas a dizer que A-DO-REI! Este museu, com mais de 700 livros e objectos, evoca o universo de Júlio Verne, a sua personalidade, memórias e fontes de inspiração... é um museu que sabe a autêntico e onde nem vemos as horas passar!

Musée de picardie

RUE de la république, 48ADULTOS: 2€

Para aqueles que queiram ficar a saber mais sobre a antiga região da Picardia (a qual com a nova distribuição das regiões na França, passou a englobar a região Hauts-de-France) ou para aqueles que gostam de Arte, recomendo-vos uma visita ao Museu da Picardia.

Criado em 1867, este "Palácio das Artes" surgiu sob o nome de Museu Napoleão em referência ao Imperador da França, considerado o fundador do museu depois de ter enviado uma série de pinturas à cidade por ocasião da assinatura da Paz de Amiens em 1802.

O Museu da Picardia é um Museu de Belas-Artes que reúne colecções arqueológicas, esculturas (incluindo alguns originais da Catedral), objectos de arte e pinturas que traçam a história da região do Paleolítico até aos dias de hoje.

Pessoalmente gostei bastante do museu, não só pelo edifício em si, como também pelas exposições apresentadas no seu interior.

A minha divisão preferida foi, sem dúvida alguma, o Grand Salon, uma sala em tons vermelhos com uma colecção de pinturas que vale a pena apreciar! Na minha opinião, os únicos pontos a melhorar são o facto de as pinturas se encontrarem penduradas em três níveis e a iluminação não ser a melhor (o que torna a tarefa de as admirar bem difícil) e, aquando da minha visita, um grupo de funcionários do museu ter decidido utilizar esta sala para conversar, sem consideração alguma para com os visitantes que procuravam apreciar as obras expostas!

jardin des plantes

boulevard du jardin des plantes, 60Acesso gratuito

Por fim, e para descansarem um pouco do longo passeio pela cidade, recomendo que sigam até ao Jardin des Plantes de Amiens. Criado em 1751 por decisão do rei Louis XV que concedeu uma renda anual de 2000 libras à cidade para a criação de um jardim botânico, este jardim é um dos mais antigos em França!

Amiens foi, sem dúvida alguma, uma das cidades que mais me surpreendeu em França! Decidi visitar a cidade por mero acaso, sem quaisquer ideias pré-concebidas, e acabei por descobrir um destino que ainda guarda o tradicional charme francês!

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