Jazz, jacarés e beignets: Roteiro de 3 dias em New Orleans

Laissez les bons temps rouler. O lema de New Orleans descreve na perfeição esta cidade do Sul situada junto ao rio Mississipi.
Cidade que mistura as culturas francesa e espanhola às influências caribenhas e crioulas, New Orleans é o berço da música jazz, cidade de arquitectura admirável e gastronomia única, local onde tanto permanecemos a dançar até de madrugada no French Quarter como desfrutamos da paz e sossego do bayou enquanto fazemos um tour pelos pântanos. Cidade de contrastes, parece quase impossível descrever New Orleans. É ver para crer.

onde ficar

Nem sempre sou de recomendar onde ficar numa cidade, mas o alojamento que escolhi para New Orleans acabou por ser uma tão boa escolha na relação qualidade/preço que não podia deixar de mencioná-lo aqui!
Se tal como eu procuram uma opção económica em New Orleans (uma cidade que é tão turística e, por consequência, um pouco cara), recomendo-vos o The Quisby.

Este recém-inaugurado hostel fica no Garden District, mesmo em frente a uma paragem do streetcar que liga este bairro ao French Quarter e a uma curta distância de pontos de interesse como a Magazine Street ou o National World War II Museum. Para mim, a localização não podia ter sido melhor já que o hostel fica relativamente perto de todos os locais de interesse no centro de New Orleans e, ao mesmo tempo, distante do French Quarter para eu não ter tido que me preocupar com o barulho à noite.

Quem está habituado a ficar em hostels vai ficar agradavelmente surpreendido com o The Quisby já que em qualidade este se aproxima mais do nível de um hotel: design clean, quartos com casa-de-banho privativa e beliches que na realidade são das camas mais confortáveis em que já dormi.
Quem está habituado à vibe mais festiva dos hostels poderá estranhar um pouco a falta de áreas comuns no The Quisby ou mesmo a cozinha de tamanho reduzido (a qual se limita a um frigorífico, um microondas e uma torradeira), mas para quem procura convívio bastará sentar-se numa das mesas ou ao balcão do bar do hostel, o Audubon Club, o qual aliás serve alguns cocktails típicos da cidade, como o hurricane.

Apesar de pecar pela falta de zonas comuns para convívio, o hostel ganha pontos pela limpeza, conforto e sossego, que era exactamente aquilo que eu procurava na minha estadia em New Orleans!

primeiro dia

FRENCH QUARTER

Obviamente, qualquer roteiro por New Orleans tem que começar obrigatoriamente no French Quarter, o bairro mais conhecido da cidade. Igualmente conhecido como "Vieux Carré", este é não só o coração e alma da cidade como também um marco histórico nacional, uma vez que foi aqui que surgiu a colónia original de New Orleans, estabelecida pelos franceses em 1718.

Comecem a vossa visita pela canal street, a rua que fica mesmo no limite do bairro e que é na realidade o ponto de partida de todas as ruas que atravessam o French Quarter. Servida pelo sistema de streetcar recém-restaurado (o qual liga o Garden District ao French Quarter), a Canal Street abriga não só os principais hóteis do centro da cidade como também uma grande variedade de lojas.

Sem dúvida, a rua mais famosa do French Quarter (e, muito provavelmente de toda a New Orleans) é a bourbon street. Se durante o dia podemos facilmente aqui encontrar artistas e músicos de rua, à noite esta rua transforma-se no epicentro da infâme vida noctura da cidade com bares abertos até de madrugada.

Não deixem de percorrer as ruas de calçada e admirar a arquitectura típica do French Quarter (que, aliás, é espanhola), com pátios com fontes e varandas em ferro de estilo barroco e plantas penduradas.

Para uma experiência menos turística e agitada, caminhem até ao centro do French Quarter para visitar a agradável jackson square. No centro da mesma irão encontrar um dos símbolos mais icónicos de New Orleans: a saint louis cathedral, a qual é, aliás, a catedral mais antiga da América do Norte, originalmente construída no início do século XVIII. A estrutura que vemos actualmente é na realidade a terceira catedral construída no local, já que as duas primeiras foram destruídas. Não deixem de visitar o interior da catedral para admirar a sua arquitectura única!
É igualmente em redor da Jackson Square que vão encontrar algumas das lojas mais interessantes do bairro, já para não falar que em frente à praça encontram carruagens puxadas a cavalo, videntes prontos a revelar-vos o vosso futuro  ou mesmo o histórico Café du Monde!

FRENCHmen street

Se querem absorver o lado mais autêntico de New Orleans e afastar-se das áreas turísticas da Bourbon Street, dirijam-se à animada Frenchmen Street. Lugar popular entre os locais, a Frenchmen Street ocupa uma área de quatro quarteirões no bairro de Faubourg Marigny.

Durante o dia, vale a pena parar no french market, uma área ao ar livre que, em semelhança a alguns mercados europeus, alia um mercado com produtos locais a gastronomia, artesanato, antiguidades, produtos em segunda mão e mesmo música ao vivo.

À noite, poderão aqui encontrar clubes de ambiente descontraído com música jazz ao vivo ou, se a vida nocturna não é a vossa praia, podem passar no frenchman art market (aberto diariamente das 19h à 1h), um mercado ao ar livre onde os locais vendem arte e produtos feitos à mão.

segundo dia

swamp tour

No segundo dia em New Orleans acordem cedo para visitar os famosos pântanos do bayou do Louisiana. Estendendo-se ao longo de vários Estados do Sul, o bayou desde cedo desempenhou um papel crucial no desenvolvimento dos mesmos em termos de comunicação e transporte e, como tal, é paragem obrigatória para quem visita a cidade.

Existem várias empresas que fazem os famosos swamp tours pelos pântanos de New Orleans, pessoalmente recomendo-vos a Cajun Encounters, a qual oferece uma opção com transporte desde o hotel para quem não queira conduzir até aos subúrbios da cidade.
No tour aprendi um pouco de tudo sobre o bayou, desde factos relacionados com ecologia, passando pelo dia-a-dia das pessoas que vivem lá a, claro está, a vida selvagem, já que esta área de paisagens de tirar o fôlego que mistura água salgada e água doce é lar de lagostins, camarões, serpentes e, obviamente, dos famosos alligators ou jacarés americanos.

mardis gras world

Ainda que não estejam em New Orleans durante o Mardi Gras, vale a pena aproveitar a estadia na cidade para espreitar como é preparada uma das celebrações mais famosas (e estranhas) dos Estados Unidos.
O Mardi Gras World oferece uma visão diferente desta famosa festa: este não é um museu, antes uma oficina onde os antigos carros da parada se encontram armazenado e os novos estão em processo de fabrico. Numa visita guiada por este verdadeiro labirinto, é possível ver de perto os adereços utilizados no festival ou ainda provar uma fatia do king cake tradicional deta festividade.
Localizado nas margens do rio Mississipi, o Mardi Gras fica um pouco distante do centro, mas no preço do bilhete está incluído um serviço de transporte gratuito que liga esta atracção ao French Quarter. Não há horários de recolha específicos, antes terão que ligar quando estiverem num dos locais de transporte e uma van virá buscar-vos.

terceirO DIA

national world war ii museum

Até quem não é fã de História compreenderá facilmente porque o Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial é considerado um dos melhores museus dos Estados Unidos.
De proporções gigantescas e dividido ao longo de vários pavilhões, este museu aberto desde o dia 6 de Junho de 2000 (o 56º aniversário do Dia D) abriga uma impressionante colecção de filmes educacionais e artefactos que documentam diferentes frentes da Segunda Grande Guerra desde o Holocausto, passando pela guerra no Pacífico até ao famoso Dia D.
Em vez de se limitar a apresentar factos, este museu recorre a exposições interactivas que nos transportam e imergem no mundo emocional das pessoas que viveram em primeira mão a Segunda Guerra Mundial, quer lutando na frente nacional americana quer no exterior. Sem dúvida uma visita gratificante que vale a pena cada cêntimo gasto.

ghost tour

New Orleans é frequentemente citada como sendo uma das cidades mais assombradas dos Estados Unidos e, como tal, quer sejam crentes do mundo espiritual ou não, vale a pena terminar a visita pela cidade com um ghost tour.
Eu participei num tour da Free Tours by Foot (empresa que adoro e à qual tenho recorrido em várias cidades americanas) e posso afirmar que a minha guia soube usar na perfeição o tom certo para contar histórias assombradas em grande parte baseadas na mistura de tradições e superstições africanas, francesas e espanholas da cidade. Entre contos de hóteis e casas assombras à história verídica da cruel Delphine Lalaurie, desafio-vos a fazer este tour e conseguir dormir tranquilamente à noite...

onde comer e beber

café du monde

É regra geral que em New Orleans quanto maior a fila, maior a armadilha para turistas. O Café du Monde no French Market é possivelmente o único local que desafia esta máxima já que este stand, presente mesmo em frente à Jackson Square desde 1862 e aberto 24h por dia, é conhecido pelos seus beignets cobertos em açúcar em pó e pelas xícaras fumegantes de Café au lait que parecem já fazer parte do ADN gastronómico da cidade.

Cochon butcher

Se visitarem o Museu Nacional da II Guerra Mundial, aproveitem para passar no Cochon Butcher, um restaurante casual que mistura os ingredientes humildes e regionais da comida tradicional cajun e os transforma em obras-primas para as papilas gustativas.

De entre as delícias do menu que podem provar encontra-se a muffuletta, uma versão de chef do clássico sanduíche de New Orleans criado na Central Grocery no French Quarter. Se o original usa um pão plano com sementes de sésamo e uma textura firme, o Cochon reinventou-o com um bolo de de sésamo macio que é dourado para ficar mais crocante no fundo. As carnes caseiras, que misturam presunto e pastrami com uma boa dose de pimenta preta a uma tapenade de azeitona e pickles, fazem com que esta sanduíche em iguais partes húmida e crocante se torne inesquecível! 

stanley

Aparentemente foi mesmo em New Orleans que foi inventado o famoso Brunch de Domingo, originalmente uma uma refeição programada para aqueles que deixavam a missa numa cidade onde, historicamente, a religião predominante é a católica.

Mesmo que não seja Domingo, não podem perder o brunch (ou pequeno-almoço se estiverem suficientemente acordados depois de uma noite na famosa Crescent City) no Stanley, um restaurante localizado numa das esquinas da Jackson Square. 

Ainda que pessoalmente considere que não existam más escolhas neste restaurante, não posso deixar de recomendar que provem a banana's foster french toast, uma pilha pecaminosa de pão francês, banana fatiada, nozes e molho foster, coberto com uma colher de gelado de baunilha do Tahiti. Sim, eu sei que estamos a falar de pequeno-almoço, mas passem por lá e depois façam o favor de virem aqui dizer-me se não é simplesmente delicioso. You're welcome.

killer poboys

Poboys. Poor boys. Pouco importa como digam, esta sanduíche que durante muito tempo alimentou os trabalhadores de New Orleans é pura e simplesmente deliciosa.

Apesar de ser relativamente fácil encontrar um bom poboy em qualquer bairro de New Orleans, pessoalmente recomendo-vos o Killer Poboys, um pequeno restaurante que oferece uma versão criativa e inovadora deste clássico de New Orleans ao misturar ingredientes tradicionais a opções originais como barriga de porco, salmão defumado ou ainda batata-doce.

Gumbo shop

A Gumbo Shop detém há mais de dez anos o mui cobiçado título de "melhor gumbo de New Orleans" e não é para menos já que este restaurante amado por locais e turistas oferece, além do famoso prato típico que lhe dá nome, uma variedade de iguarias crioulas e cajun que incluem jambalaya, feijão vermelho e arroz ou mesmo etouffee. Se tal como eu querem provar um pouco de tudo, no menu encontram o creole combination platter que mistura três dos pratos mais icónicos de New Orleans. Para sobremesa não deixem de pedir o delicioso praline sundae. 

sucré

Em pleno French Quarter encontram a Sucré, um misto de café, geladaria, pastelaria e chocolatier, tudo em um. Além de delicioso café, podem encontrar aqui uma variedade de chocolates e gelados artesanais, macarons e pastelarias de inspiração francesa que vos vão deixar de água na boca!

pj's coffee & CC's COFFEE HOUSE

Para quem quer beber um bom café em New Orleans, saibam que o rei das coffee shops aqui não é o Starbucks, mas sim várias empresas locais. Pessoalmente recomendo-vos a CC'S Coffee House ou ainda o PJ's Coffee, cadeias de cafés franchise com uma ampla variedade de bebidas quentes e frias, bem como pastelaria fresca. Neste último não deixem de provar a granita, um ice coffee tipo granizado.

laffitte's blacksmith shop

Construído durante a década de 1720, o Lafitte's Blacksmith Shop é considerado como possivelmente o bar mais antigo dos Estados Unidos e, definitivamente, o edifício mais antigo actualmente ainda em uso como um bar. Localizado na esquina da Bourbon Street com a Philip Street, o edifício terá sido originalmente utilizado pelos irmãos Lafitte como base de operações de contrabando e é actualmente popular pelo poderoso " voodoo daiquiri", um daiquiri de uva servido, como todas as bebidas deste bar, num copo de plástico. À noite, o interior do bar permanece iluminado à luz das velas e por vezes é frequente encontrar um artista tocar ao vivo no piano do bar.

qualquer loja de pralines

Feito a partir de manteiga, natas, açúcar e, obviamente, nozes-pecã de New Orleans, o praline (pronunciado à boa maneira americana como "prah-leen") é uma das sobremesas mais tradicionais da cidade. Trazido pelos colonos franceses para o Louisiana no século XIX dada a abundância tanto de cana-de-açúcar quanto de nozes, este doce de estilo europeu criado no século XVII acabou por ser reinventado e transformado numa delícia crioula a não perder. Das várias marcas de pralines que podem encontrar nas lojas da cidade, recomendo-vos a Southern Candymakers, a Aunt Sally's ou ainda a The Praline Connection.

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