Visita ao Château d'If, o castelo que inspirou o Conde de Monte Cristo

Chegámos ao quinto e último dia da nossa viagem pela belíssima região francesa da Provença!

Neste último dia, saímos cedo do hotel para nos dirigirmos à Gare Marseille Saint-Charles: a minha irmã para apanhar o shuttle para o aeroporto, eu para deixar a minha mala numa das consignes da estação ferroviária já que apenas tinha o meu comboio de regresso às 16h e pretendia aproveitar ao máximo o tempo livre que me restava para finalmente tentar ver um pouco de Marselha, algo que não me tinha sido possível no primeiro dia da nossa viagem.

Comecei a minha visita pelo típico Panier, o bairro de Marselha que mais tinha gostado de visitar no primeiro dia da nossa viagem. Infelizmente, como tínhamos chegado tarde a Marselha devido ao enorme atraso do meu comboio, todos os monumentos já se encontravam fechados, pelo que neste último dia aproveitei para finalmente ver alguns dos pontos de interesse que tinha na minha lista!

Um dos monumentos que aproveitei para visitar neste bairro foi a cathédrale de la major, a qual, com os seus 142 metros de comprimento e capacidade para até 3.000 pessoas, é na realidade a junção de duas igrejas que se sobrepõem: a antiga e a nova Major.

Se o exterior da igreja já anteriormente me tinha fascinado com a sua inspiração néo-bizantina e a utilização alternada de pedras brancas e pretas, confesso que para mim a verdadeira surpresa foi o seu interior em pedra branca e vermelha de Cassis (lembram-se de vos ter falado deste tipo de pedra?), preenchido com mosaicos finos e com um tecto que se eleva bem alto.

Da Catedral segui até à vieille charité, um edifício icónico do bairro, construído no século XVII sobre os planos do arquitecto Pierre Puget para abrigar os pobres e necessitados da cidade. Este edifício em estilo barroco - classificado como monumento histórico - foi alvo de trabalhos de restauração durante quase 25 anos e abriga actualmente vários museus.

Acabei por voltar ao VIEux port, onde decidi almoçar. Por ainda ser de manhã, acabei por ter a sorte de poder ver o tradicional marché aux poissons de Marseille, um antigo mercado de peixe que tem lugar todos os dias das 8h às 13h e no qual podemos assistir não só a vendedores que com os seus pregões procuram vender o peixe fresco do dia, mas igualmente observar em pano de fundo os barcos de pesca que estes utilizam.

É claro que, tendo vindo a Marselha, não podia passar ao lado da oportunidade de visitar o incrível château d'if!

O nome provavelmente não significará nada para a maior parte das pessoas até eu explicar que esta fortaleza serviu de inspiração para o famoso livro O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas! Para quem não conhece ou já esqueceu, este livro relata a história do personagem fictício Edmond Dantès, o qual é injustamente acusado de ser um Bonapartiste (um apoiante de Napoleão) e é encarcerado no temível e inexpugnável Château d'If. Na prisão, Dantès faz amizade com outro prisioneiro, o abade Faria, o qual se torna seu mentor e lhe revela a localização de um vasto tesouro que possui na ilha de Montecristo, na costa de Itália. Quando o abade morre, Dantès consegue escapar do Château d'If e procura vingança daqueles que o traíram.

Localizado numa ilha a cerca de 3,5 quilómetros a oeste de Marselha, para chegar ao Château d'If é necessário embarcar num dos vários ferry boats que fazem a travessia. 

Tinha lido que as correntes em torno da ilha são bem fortes, mas, surpreendentemente, no dia em que visitei esta fortaleza, o passeio de barco de cerca de 30 minutos revelou-se bastante calmo e agradável (e uma óptima oportunidade para aproveitar o fantástico sol do Sul de França!).

a primeira visão do château d'if, ainda no barco

A fortaleza do Château d'If foi mandada construir em 1521 pelo rei Francis I pela sua localização estratégica para a defesa da cidade (de facto, a cidade nunca voltaria a ser invadida após a sua construção).

A fortaleza segue uma construção clássica, com paredes largas e grossas e três torres elevadas para armazenamento de armas.

A minha visita começou mesmo pelo exterior da fortaleza, onde pude caminhar ao longo dos seus muros e entrar nas antigas torres que serviam para a defesa do castelo.

Ao longo do caminho, é fácil encontrarmos algumas das aves marinhas que procuram refúgio nesta ilha dado o seu microclima árido (como por exemplo a gaivota-de-patas-amarelas que podem ver na foto).

Na ilha encontra-se um antigo farol, a partir do qual se têm vistas panorâmicas incríveis sobre o vizinho arquipélado do Frioul e, ao fundo, a cidade de Marselha com a facilmente distinguível Notre-Dame de la Garde no topo.

A partir de 1580 e durante cerca de 400 anos, o castelo foi utilizado como prisão para prisioneiros políticos e religiosos. As correntes fortes que rodeiam a ilha eram motivo para que esta fosse conhecida como de fuga impossível. De facto, na vida real nunca nenhum prisioneiro conseguiu escapar do Château d'If (só mesmo na história de Dumas é que Edmond Dantès se torna o único preso a fugir da prisão ao nadar para Marselha).

Para mim, a parte mais interessante da visita foi o interior da fortaleza, onde podemos caminhar livremente e, com recurso a painéis informativos, descobrir a sombria história do Château d'If.

Aqui seguimos por passagens estreitas, visitamos antigas catacumbas, quartéis, escritórios e, claro está, antigas células de prisioneiros. Chega a ser mesmo chocante observar como estes viviam em condições precárias e não tinham quase nenhuma chance de sobreviver à sua estadia nesta prisão (exceptuando, claro está, se conseguissem pagar para melhorar as suas condições de vida).

Por aqui passaram cerca de 3.500 protestantes que viram o seu direito ao culto revogado, mas igualmente prisioneiros políticos da Revolução Francesa que deixaram nas paredes a sua marca com mais de 90 inscrições e figuras esculpidas na rocha. Aqui as placas à entrada das células mencionam ainda prisioneiros que foram queimados vivos ou baleados por pelotões de fuzilamento. Estas condições manter-se-iam até à Primeira Guerra Mundial, quando os últimos prisioneiros foram libertados.

informações práticas

Como chegar: Apanhando uma das Navettes Frioul Express que partem do Vieux Port. A viagem dura entre 20 a 30 minutos e custa 10.8€ a ida e volta. Última partida para visitar o Château d'If às 16h05 e última partida do Château d'If de regresso ao Vieux Port às 18h15.

Preço: A entrada no Château d'If custa 5.5€ (gratuito para menores de 26 anos da União Europeia).

Terminada a visita ao Château d'If, regressei ao Vieux Port para me despedir de Marselha e, para tristeza minha, da Provença! Foram cinco dias a explorar esta belíssima região no Sul de França que dificilmente esquecerei!